segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Poemas rupestres


Por viver muitos anos dentro do mato
Moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro –
Contraiu visão Fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
Por igual
Como os pássaros enxergam.
As coisas todas inonimadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra.
E tal.
As palavras eram livres de gramática e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar às pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em uma abelha, era
só abrir a palavra abelha e entrar dentro
dela.
Como se fosse a infância da língua.

(Manoel de Barros)

6 comentários:

  1. Adoro esse livro. Adoro o Manoel de Barros.
    Quando lia esse livro, não sei porquê tinha a sensação de tá na adolescência de novo.

    Bjs!

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  2. O mais legal de tudo é saber que existem muitas maneiras de fazer da linguagem uma expressão verdadeiramente autêntica. Quanto a isso, os poetas são primorosos. São eles esses seres mágicos capazes de olhar para as coisas sempre como se fosse a primeira vez. Cada um à sua maneira, nos ensinam poeticamente que o sentido das palavras não está dado - como seu valor, e por isso, precisa de cuidado, como o amor...

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  3. Cada um à sua maneira, nos ensinam poeticamente que o sentido das palavras não está dado – como seu valor, e por isso, precisa de cuidado, como o amor…

    copiando por não saber dizer melhor...

    =)

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  4. Professor, mestre Manoel de Barros e sua escrita de lama, areia, de folha, de bicho que tudo que o homem não entende...

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