domingo, 19 de abril de 2020

Um vírus chamado



Quase dois anos sem escrever nada por aqui.
Os motivos que me levam à escrever são sempre aleatórios.
Quase um instinto que vai tomando forma por meio de palavras.
E por onde começar?
Pela justificativa de estar aqui escrevendo?
Precisa de uma justificativa?
Muitas vezes durante esse tempo que passei sem escrever tive vontade, era tomada pelo instinto, as palavras iam se amontando em mim até se perderem... Eu tentava organizá-las em minha mente, quando eu tivesse tempo e iria escrever...
Mas as palavras têm pressa, não esperam muito.
E então perdi muitas palavras que eram, na verdade, transbordamentos de mim mesma...
A justificativa é essa então: agora eu tenho tempo até para inventar palavras e instintos... Agora tudo que eu tenho é tempo.
Agora o tempo.
De se voltar pra si. Tempo de parar as engrenagens. Ouvir o som da morte e o desespero da vida.
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Então, eu que estava deitada em minha cama, ouvindo  "clássicos do rock", lendo Caio Fernando Abreu, depois de passar um dia em meu quarto, e resolvi sentar e escrever sobre o que está acontecendo.
Hoje é domingo, mas todos os dias têm sido iguais, pra mim.
Estamos numa pandemia causada por um vírus e tudo que podemos fazer é ficar em casa, evitando assim o contato com outras pessoas.
Me parece assim até um pouco irônico, que depois de nos isolarmos uns dos outros por vontade própria,  de uma "privacidade" ou por puro egoismo de dividir nossos momentos com outras pessoas. Passamos a escolher um grupo que é digno de nosso convívio e excluímos todos os outros. E agora somos reféns de nosso estilo de vida, que está ameaçado até por aquele que nem fazia parte de seu círculo privilégiado.
Conseguimos, finalmente, ser o bicho mais perigoso do mundo: humanos.
Mantenha distância.
Fique em casa.

M.