domingo, 22 de dezembro de 2013

Do livro de Auta - Ruth Bueno

          

          Foi na época de Natal que ela recebeu, de presente, cinco vasos de plantas. Dois deles, de folhagem resistente, não exigiam muitos cuidados; bastavam-lhes água, sombra e luz, e o melhor era deixa-los sossegados, brotando e crescendo. O terceiro deitou rama caída, formando cortina  espessa. O outro vaso, de folha desconhecida, veio até com flor; o quinto, quando chegou, era o mais bonito, o vaso parecia uma bola perfeitamente redonda, as folhinhas miúdas, verdes riscadinhas de branco, davam-lhe certo ar de luxo, querendo salão.
          Auta queria dividir os seus cuidados entre os cinco vasos, mas a planta bonita exigia sua atenção constante: por que será que a gente se sente mais atraída pelo que é belo? 
          Não tardou muito e as folhas verdes do vaso redondo parecendo bola, começaram a cair. Auta lembrou-se de que as plantas sentiam a mudança de ambiente, teve medo de que ela se entristecesse, chamou o jardineiro, seu conhecido antigo, que não atinou com o motivo de tamanho estrago. Como remédio, sugeriu menos rega, abrigo do sol, e esquecê-la, deixando o tempo correr.
          As folhas continuaram a cair, até a última. Apenas os caules resistiram. Auta pensou em aproveitar o vaso para outro tipo de planta, orque estava tão feio, os caules ressequidos. Querendo que eles brotassem ainda, pedia-lhes que dessem folhas, cobrindo a terra do vaso. Dois ou três dias depois, apareceram dois brotos mínimos, pequenos como cabeça de alfinete. Auta tocou-os com as pontas dos dedos fazendo-lhes festa; outros mais vieram dias depois, cobrindo a terra do vaso.
          Auta voltou sua atenção para as outras plantas que nunca lhe deram cuidado, não exigindo sua presença, ao contrário, cresciam e brotavam.
          Aquelas plantas pareciam imitar gentes; em algumas, manhas e caprichos, em outras, a simplicidade, o afeto dado por gosto, sem espera de nada em troca.

- Retirado de "O livro de Auta" da escritora Ruth Bueno,

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A vida de um professor por Nildo da Pedra Branca


1
O nosso Brasil tem sido
palco de grandes valores
tem astronauta, biólogo
engenheiro, promotores
mas para serem formados, 
precisa dos professores.

2
Até juiz de direito
e o desembargador
o médico de medicina
capitão, aviador
pra conseguir seus diplomas,
depende do professor.

3
Dentre outras profissões
não é preciso falar
só falo se for preciso
algo mais acrescentar
só entra na faculdade
se o professor lecionar

4
O professor é a fonte
que enriquece a nação
solta o verbo, rasga a mente
educando o cidadão
entregando à pátria amada,
paz amor e união.

5
Mas eu vejo que o povo
ainda não entendeu
ou não sabe cultivar
tudo quanto recebeu
se sabe coloque em prática
esse é um direito seu.

6
Em uma sala de aula
vi um professor tentando
explicar para o aluno
e o aluno resmungando
o professor paciente
e o aluno esnobando.

7
O aluno irritado
falou mal do professor
arranjou muito defeito,
mostrando seu mal humor,
tirando do seu bom mestre
a sua arte e valor.

8
E ficou só blasfemando...
com tamanha exigência
quando o professor é jovem
nada tem de experiência
se é velho está superado
e não tem mais paciência.

9
Se não possui automóvel,
chamam ele de coitado...
Quando ele compra um carro
falam que comprou fiado,
ou então ele ganhou
de um amigo deputado.

10
Quando fala em alto tom
pra o aluno está gritando
quando ele fala normal
ninguém está escutando
quando ele está calado
já está se injuriando.

11
Quando ele falta o colégio
chamam ele de turista
se chega bem arrumado
é um borsal ou artista
quando vem mal arrumado,
é um miserável na vista.

12
Quando ele chega e conversa
com os outros professores
é taxado de folgado
está atrás de favores
abandonando a sala
pra ficar nos corredores

13
E quando ele é calado
é um demente, idiota...
Um pobre bem desligado
fica escorado na porta
quando está lendo alguém diz:
esse besta hoje se esgota.

14
Se passa muitas matérias
a turma também não gosta
Quando não escreve nada
não dá uma boa nota
se escreve razoável,
a turma já não suporta.

15
Se brinca com os alunos
dá uma de engraçadinho
Quando não brinca é um chato
e fica muito sozinho
se fala em religião
tá querendo ser santinho.

16
Se chama atenção da turma
tá querendo ser grosseiro
quando não chama atenção,
coitado não tem roteiro.
Se preserva a classe limpa,
dá uma de faxineiro.

17
Se aplica a prova longa
é um inexperiente...
quando a prova é curta
ele é incompetente
se fica dentro da sala
é um inconveniente.

18
Se o professor fala bem
foge do itinerário
Se fala a língua normal
não sabe nada, é otário
se esquece o dia do mês
não possui um calendário.

19
Se ele aplica uma prova
o aluno é aprovado
outro fica resmungando
o professor está errado
e ainda aumenta as críticas
quando é um reprovado.

20
Se o professor ganha bem
chora de barriga cheia
quando ele ganha mal
e a coisa fica feia
pensa logo em fazer greve
falando da vida alheia.

21
E mesmo assim vão vivendo
nossos bravos professores
estudam de dia e de noite
vão descobrindo valores
entre todas as profissões
eles são mais sofredores.

22
O professor para mim
é uma pérola bem fina...
Tudo que ele aprendeu
com vontade nos ensina
o professor é um ouro
extraído de uma mina.

23
Quase tudo que aprendi
agradeço ao professor
essa classe sofredora
mas tem um grande valor,
pois tudo que aprendeu
nos ensina com amor.

24
Se eu fosse um reformado
e tivesse uma grande patente
logo eu convocaria
um professor competente
e lhe daria um cargo
ao lado do presidente.

25
Professor eu agradeço
do fundo do coração
Deus abençoe vocês 
pra nos dar educação
pois é com seu compromisso
que se desenvolve a nação.

26
Se o aluno tem vontade
e quer ser um vencedor
siga em frente meu amigo
seu futuro começou
e se não conseguir vencer
a ler, contar e escrever,
não culpe o seu professor.











segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Como se eterniza um amor?



Assim!

Vai, Florbela...

"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..."

(Livro de Soror Saudade, 1923)

Pra você, meu amor...

terça-feira, 12 de novembro de 2013

O eterno retorno


Isso de ter um blog é mesmo uma onda... A pessoa meio que fica naquela responsabilidade de publicar para atualizar a página e tal. Quando eu fiz esse blog aqui era uma mistura de vontade de escrever com vontade de ser lida. Mas tem vezes que a gente cansa né? De querer. E não suporta mais o querer aí vive não mais a vontade mas a realização da vontade.
Fazia tempo que eu não pegava um livro pra ler assim por acaso. Pois essas são sempre as minhas melhores leituras. Sem recomendações nenhuma. Aí encontrei na estante da casa de minha mãe um livro de uma escritora que nada sei sobre ela, além do nome, Ruth Bueno.

(Vou até aproveitar aqui e ver no Google quem é ela)

(Realmente acho que ela não é muito conhecida, pois coloquei no google e o primeiro nome que apareceu foi de uma Dr. Psicóloga)

(Mas agora descobri que esse nem era seu nome, era o pseudônimo! Olha: http://www.allaboutarts.com.br/default.aspx?PageCode=12&PageGrid=Bio&item=0205l1)


Então, estava lá, na estante, em meio a tantos outros livros, de diferentes cores, formatos, tamanhos, sonhos e dores, estava lá "O livro de Auta" de Ruth Bueno. Uma edição de 1984. Comecei a ler assim por acaso e senti a vontade de escrever de novo.
A primeira vez que li Ruth foi um livo chamado "O diário das máscaras". Isso no ano de 1996. E nesse livro tinha um trecho que se intitulava "catarse" (Lembra Fabiana? Tantas vezes lemos juntas esse texto...). Foi a primeira vez que eu vi essa palavra na minha vida: Catarse.
Eu não tinha ideia do que significava isso. Mas achava simplesmente a poesia tão linda. Porque ela me comunicava algo incomunicável: o catarse. Ao ler "catarse" eu não sabia o que era catarse, mas vivi uma catarse.

Queria deixar aqui um poco do livro de Auta que está comigo aqui...

 " Saiu de manhã, com o sol nascendo, para ver a aurora no mar. Pouca gente ainda na rua, apenas os carros passando, os ônibus cheios, cinco horas, conferiu o relógio. Sentou-se em um banco, voltada para o mar.
   Ouvindo o ruído das rodas no asfalto, e o marulho das ondas em cadência, Auta, olhar fixo no horizonte, possuída pelas cores vivas que o iluminavam, fazia a si mesma perguntas sem fim."

Ruth Bueno, O livro de Auta.

Ruth Bueno foi o nome literário adotado por Ruth Maria Barbosa Goulart que nasceu em Juiz de Fora, estado de Minas Gerais, dia 19 de janeiro de 1925. Ruth graduou-se em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro tendo sido professora de ensino superior. Ruth dedicou-se também à literatura onde escreveu ficção, foi ensaísta e muito engajada na causa feminista tendo dedicado grande parte de sua vida aos questionamentos, utilizando a jurisprudência, sobre as leis preconceituosas relacionadas à mulher. Sobre esse assunto publicou inúmeros livros e participou de congressos sobre direitos humanos no Brasil e exterior. é autora da publicação Regime jurídico da mulher casada, 1970.
Quando se iniciou na literatura, ainda jovem, Ruth começou pela ficção e escreveu diários, cartas e contos. Sua estréia em livro foi em 1966, com a obra Diário das máscaras. Depois, escreveu Cartas para um monge onde fala da ausência do amor. Mais tarde, publicou A corredeira, sobre uma jovem internada em uma clínica psiquiátrica. Suas obras sempre versaram sobre o ser humano, sem amor e sempre em busca do auto-conhecimento.
Obras da autora: Contos e poesia: Diário das máscaras, 1966; Bip bip bip, 1982; Livro de Auta, 1984; O guichê, 1980; Cartas para um monge, 1967. (retirado do site linckado acima)

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Amigo se escreve com J

Jefferson Mello (fevereiro de 2013)

 Começo dizendo que não pedi sua autorização para publicar sua imagem, porque te amo, e quem ama nem pede licença.
     Queria dizer abertamente como foi que eu descobri o sentido da palavra “amigo” dentro de seus olhos.
     Que mesmo de olhos fechados e em silêncio eu seria capaz de te reconhecer. Pelo seu cheiro, pelo seu abraço.
     Você foi responsável por tantos momentos únicos. E simples. Não precisa muita coisa pra uma tarde se tornar inesquecível. Basta estar ao seu lado.
     Dizem que a gente só dá valor as coisas quando a perdemos. Não é o caso. Mas a distância me revelou do tanto que preciso de você.
     Mas não é a primeira vez que a distância me separa de um amigo. Primeiro foi Fa, depois Lari, Carli, Sandra... Pessoas que amo incondicionalmente. E não vai ser agora que a distância me fará perder você no tempo.
     Isso tudo é só pra dizer que amo. Que amo o jeito que você ri comigo, chora, briga, reclama, debocha, filosofa...
     E pra acabar com essa rasgação de seda eu quero te agradecer...
     Por saber mais de mim do que eu mesma, por me carregar na garupa de sua moto, por me carregar no colo se for preciso, por me ouvir, por confiar em mim, por acreditar, por passar seus dias ao meu lado, e me tranquilizar em minhas TPM’s, e dizer o que eu preciso ouvir de uma maneira sempre mais agradável!
     Obrigada pelo nosso carnaval! Foi maravilhoso ficar esses dias com você...
Te amo
     E agora, escutando uma música aqui que me lembra você, vi você dançando e pensei alto: “Que lindo!”.

Maisy