Foi na época de Natal que ela recebeu, de presente, cinco vasos de plantas. Dois deles, de folhagem resistente, não exigiam muitos cuidados; bastavam-lhes água, sombra e luz, e o melhor era deixa-los sossegados, brotando e crescendo. O terceiro deitou rama caída, formando cortina espessa. O outro vaso, de folha desconhecida, veio até com flor; o quinto, quando chegou, era o mais bonito, o vaso parecia uma bola perfeitamente redonda, as folhinhas miúdas, verdes riscadinhas de branco, davam-lhe certo ar de luxo, querendo salão.
Auta queria dividir os seus cuidados entre os cinco vasos, mas a planta bonita exigia sua atenção constante: por que será que a gente se sente mais atraída pelo que é belo?
Não tardou muito e as folhas verdes do vaso redondo parecendo bola, começaram a cair. Auta lembrou-se de que as plantas sentiam a mudança de ambiente, teve medo de que ela se entristecesse, chamou o jardineiro, seu conhecido antigo, que não atinou com o motivo de tamanho estrago. Como remédio, sugeriu menos rega, abrigo do sol, e esquecê-la, deixando o tempo correr.
As folhas continuaram a cair, até a última. Apenas os caules resistiram. Auta pensou em aproveitar o vaso para outro tipo de planta, orque estava tão feio, os caules ressequidos. Querendo que eles brotassem ainda, pedia-lhes que dessem folhas, cobrindo a terra do vaso. Dois ou três dias depois, apareceram dois brotos mínimos, pequenos como cabeça de alfinete. Auta tocou-os com as pontas dos dedos fazendo-lhes festa; outros mais vieram dias depois, cobrindo a terra do vaso.
Auta voltou sua atenção para as outras plantas que nunca lhe deram cuidado, não exigindo sua presença, ao contrário, cresciam e brotavam.
Aquelas plantas pareciam imitar gentes; em algumas, manhas e caprichos, em outras, a simplicidade, o afeto dado por gosto, sem espera de nada em troca.
- Retirado de "O livro de Auta" da escritora Ruth Bueno,